Por que os brancos se organizam melhor politicamente?
A população branca historicamente se organiza melhor politicamente do que a negra não por acaso, mas por desigualdades estruturais. Desde a formação do Estado, a política favoreceu elites brancas, garantindo-lhes maior acesso à terra, educação e recursos financeiros. Tentativas de organização negra foram frequentemente sufocadas: lideranças perseguidas, movimentos criminalizados e coletivos fragmentados mostram que o racismo estrutural limitou o protagonismo político negro.
O que dizem os autores:
• Abdias do Nascimento – “O negro brasileiro sofre genocídio social e político.”
• Lélia Gonzalez – “O racismo estrutural fragmenta e invisibiliza a política negra.”
• Florestan Fernandes – “A estrutura social brasileira privilegia a organização de quem já detém poder.”
• Clóvis Moura – “O povo negro enfrenta barreiras contínuas à articulação coletiva.”
• Michael Hanchard – “As elites brancas consolidam redes de poder mais duradouras.”
• Kabengele Munanga – “Participação política negra é limitada por condições históricas e sociais.”
• Pierre Bourdieu – “Capital social e cultural determina a capacidade de organização política.”
Marginalização
A marginalização da população negra vai além da exclusão histórica: reflete-se na criminalização seletiva e na relegação a funções subservientes. Em 2024, 69% da população carcerária era negra. Estudos mostram que negros enfrentam mais abordagens e violência policial, além de ocuparem predominantemente empregos informais e de menor renda. Esses números confirmam que a desigualdade é estrutural, e que a sobrevivência cotidiana frequentemente substitui o protagonismo político.
Naturalização
A naturalização da subserviência corrói a autonomia da população negra: aceitar migalhas, favores ou atenção apenas quando concedidos pelos governantes mantém a dependência e enfraquece a construção de poder próprio.
Pires na mão
Chega de pedir esmolas ou “fazer de pires na mão” junto aos governantes. Consolidar nossas próprias redes, ocupar espaços de decisão e exigir respeito é a única forma de romper décadas de imposição e marginalização.
Dados históricos e científicos
• Representatividade Política: Apesar de representarem 57% da população brasileira, negros ocupam apenas 26,2% das cadeiras no Congresso Nacional.
• Representatividade no Judiciário: Em 2013, negros representavam apenas 15,6% dos magistrados.
• Discriminação no Atendimento à Saúde: 29,8% dos negros já sofreram discriminação em serviços de saúde; 48,2% presenciaram tais situações.
Dados jornalísticos
• Disparidade na Defensoria Pública: Mesmo com políticas de cotas, a representatividade negra continua baixa.
• Desigualdade no Mercado de Trabalho: Negros enfrentam maiores taxas de desemprego e ocupam principalmente posições informais e de menor prestígio.
Conclusão
Romper com décadas de imposição exige recusar o “farelo”, consolidar nossas próprias redes e exigir presença efetiva nos espaços de decisão. A história negra, repleta de resistência em irmandades, quilombos, jornais, partidos e frentes de luta, prova que a articulação política é possível e necessária. Fortalecer nossas redes é fortalecer nosso futuro.
Márcio Madeira – Responsável pelo Instituto Coisas de Gente Preta / Portal Coisas de Gente Preta