Frente Negra Brasileira: entre a memória e a atualidade da luta

Fundada em 1931, em São Paulo, a Frente Negra Brasileira (FNB) representou uma das mais estruturadas organizações de afrodescendentes no Brasil do século XX. Em um contexto de exclusão sistemática da população negra, a Frente não se limitou à denúncia, mas propôs alternativas concretas nas esferas política, educacional, cultural e social.
 
Sua sede, localizada na Rua Liberdade, tornou-se um centro de referência para a comunidade negra. Ali, funcionavam a Escola José do Patrocínio, departamentos de assistência social e jurídica, cursos profissionalizantes, grupos teatrais e musicais, além de espaços para lazer e convivência. Esse modelo de organização comunitária antecipou, em certo sentido, o papel de instituições como o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), fundado em 1975 no Rio de Janeiro, que também se consolidou como um polo de resistência e afirmação cultural negra (IPCN, 2025).
 
A Frente Negra Brasileira também se destacou pela sua produção cultural. O jornal A Voz da Raça circulava nacionalmente, promovendo debates sobre identidade e direitos. A banda de música da FNB animava eventos e manifestações, enquanto o grupo feminino das Rosas Negras organizava saraus, bailes e festivais, reforçando a importância da cultura como ferramenta de resistência e afirmação (Domingues, 2008).
 
Em 1936, a Frente tornou-se o primeiro partido político negro registrado no Brasil, consolidando-se como uma referência na luta por igualdade e cidadania. Embora tenha sido dissolvida em 1937 pelo Estado Novo, seu legado perdura como exemplo de organização autônoma e propositiva da população negra brasileira (Franco, 2019).
 
Quase noventa anos depois, o legado da FNB continua a inspirar. Sua trajetória demonstra que a luta contra a exclusão não se limita à denúncia, mas implica na criação de soluções concretas e na afirmação da identidade negra nas diversas esferas da sociedade.
 
 
Referências
•DOMINGUES, Petrônio. “Um ‘templo de luz’: Frente Negra Brasileira (1931-1937) e a questão da educação”. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 39, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/hqBHpKJHNtbrVMgJb3Fpv9M/. Acesso em: 3 out. 2025.
•FRANCO, Paulo Fernando Campbell. “A trajetória do movimento negro organizado e suas estratégias de superação do racismo na sociedade brasileira (1931-2003)”. Leopoldianum, v. 45, n. 125, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/leopoldianum/a/2w5j6q7Wq5X8Xh8j9V8L6V9/?lang=pt. Acesso em: 3 out. 2025.
•INSTITUTO DE PESQUISAS DAS CULTURAS NEGRAS (IPCN). “Quem somos”. Disponível em: https://ipcnbrasil.org/. Acesso em: 3 out. 2025.
 
 
Márcio Madeira ∴ Responsável pelo Portal Coisas de Gente Preta
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