Os Sete Pecados Capitais de um Governo que Violentou o Brasil
Porque a memória preta não aceita apagamento
Há momentos na história em que o silêncio é cumplicidade. O Brasil viveu quatro anos em que o descaso se transformou em método, a negligência em política pública e o desprezo pela vida em rotina institucional — e o povo preto, como sempre, pagou a conta mais cara.
Por isso, o Coisas de Gente Preta escolhe nomear o que muitos tentam suavizar. Nosso próximo edital toma como tema uma leitura simbólica, mas necessária: “Os Sete Pecados Capitais de um Governo que Violentou o Brasil.”
E não se trata apenas de metáfora literária; é um exercício de memória, responsabilidade e resistência contra o apagamento.
1. Soberba — o deboche diante da pandemia
O sarcasmo diante da dor, o desprezo pelas vítimas, o atraso deliberado das vacinas e a incapacidade de reconhecer erros.
2. Ira — o incentivo à violência e ao armamentismo
Uma política que estimulou o ódio, normalizou o conflito e aprofundou a letalidade que recai sobre corpos negros.
3. Preguiça — o abandono da pauta racial
O desmonte das políticas de igualdade racial, o apagamento institucional e a recusa em enfrentar o racismo estrutural.
4. Avareza — os cortes na educação e na cultura
Desprezo pelo conhecimento, ataque às universidades, perseguição às artes e estrangulamento das expressões periféricas.
5. Inveja — o ataque à democracia e às instituições
Tentativas de ruptura, ameaças, desinformação e a recusa em aceitar a pluralidade que sustenta a vida democrática.
6. Gula — o garimpo, o desmatamento e a devastação ambiental
A fome por lucro que colocou em risco povos tradicionais, territórios, rios e florestas.
7. Luxúria — a celebração irresponsável do poder pelo poder
A vaidade autoritária que tratou vidas como moeda política e transformou o Estado em palco de guerra ideológica.
Por que este editorial importa
O Brasil vive hoje uma disputa de narrativa, enquanto há um esforço organizado para reabilitar o que foi indefensável. E a história do povo preto — construída com memória, luta e resistência — não será escrita com eufemismos. Lembrar é um ato político, denunciar é um ato de cuidado e criar é um ato de libertação; por isso, este editorial é um gesto de responsabilidade com a memória preta e um chamado para manter viva a verdade, porque não há futuro possível onde o passado recente é apagado — e porque o que não pode ser perdoado também não pode ser esquecido.
Márcio Madeira ∴
Editor-chefe do Portal Coisas de Gente Preta
/ Liderança Nacional do PCN