O SILÊNCIO DO PT E O PREÇO DA INCOERÊNCIA
O silêncio, quando parte de quem se diz progressista, dói mais do que o grito dos opressores.
Nos últimos dias, o país assistiu estarrecido à denúncia de racismo religioso envolvendo um prefeito do Partido dos Trabalhadores, acusado de ofender as religiões de matriz africana — bases espirituais que sustentam a história, a resistência e a cultura do povo preto brasileiro. As manifestações de repúdio vieram de coletivos, instituições e lideranças do movimento negro. Mas do partido que nasceu no discurso da justiça social, o que se viu foi um constrangedor silêncio.
Como se não bastasse, o mesmo governo que tanto se vangloria de diversidade e inclusão voltou a negar o óbvio: nenhuma mulher negra — nem sequer uma mulher ou um homem negro — foi indicada ao Supremo Tribunal Federal. É a repetição de um roteiro que o Brasil já conhece: discursos inflamados, palanques de representatividade e, quando chega a hora da decisão, o mesmo perfil branco, masculino e distante das maiorias reais deste país.
O movimento negro brasileiro, que há décadas sustenta governos com sua mobilização e consciência, não pode mais ser lembrado apenas em campanhas e datas simbólicas. Nossa luta é concreta. Nossos corpos carregam as dores de séculos e o peso da omissão de quem deveria, no mínimo, reconhecer a dívida histórica com o povo preto.
Não há desculpa aceitável para o silêncio diante do racismo. Não há coerência possível quando se fala em inclusão e se mantém o STF como uma casa alheia à cor e ao gênero que compõem a base da nação.
O Coisas de Gente Preta se soma aos que exigem respeito, representatividade e reparação. O silêncio do PT e do governo Lula não é tático, é cúmplice.
E é justamente por isso que precisamos de um partido da causa negra — um instrumento político que fale em nossa voz, que nos represente sem filtros, e que não dependa da conivência ou da conveniência de quem nunca sentiu na pele o peso do racismo.
Chegou o tempo de falarmos por nós mesmos.
Márcio Madeira – Responsável pelo editorial do Instituto
Coisas de Gente Preta