A queda do mito e a vitória da democracia
O Supremo Tribunal Federal encerrou uma das páginas mais vergonhosas da história recente do Brasil. Jair Bolsonaro, ex-presidente que durante anos alimentou ódio, fake news e ameaças contra as instituições, foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela tentativa de golpe de Estado.
O placar de 4 a 1 não foi apenas um resultado jurídico. Foi também um retrato da diversidade de perfis que, a partir de experiências distintas, convergiram para a defesa da democracia.
Alexandre de Moraes, relator, sustentou com firmeza o peso das provas e a necessidade de uma resposta dura ao autoritarismo. Sua marca é a dureza — a mesma que já o transformou em alvo constante do bolsonarismo, e que agora se afirma como uma resistência institucional.
Cármen Lúcia, discreta mas implacável, trouxe ao voto sua conhecida sobriedade. A ministra que tantas vezes repetiu que “a Constituição não se dobra” fez da serenidade sua arma contra a barbárie.
Cristiano Zanin, o mais novo na Corte, carregou a biografia de quem foi advogado de Lula. Seu voto técnico, sem estridências, buscou mostrar que não se tratava de perseguição, mas de Justiça: um recado direto a quem insiste em criminalizar o STF.
Flávio Dino, recém-chegado e com longa trajetória política, uniu erudição jurídica e contundência retórica. No Senado foi combatido pelos bolsonaristas, no Supremo respondeu com a toga: democracia não se negocia.
Na contramão, Luiz Fux preferiu a leniência. Seu voto pela absolvição parcial não surpreendeu quem já acompanhava sua trajetória de gestos mais cautelosos em julgamentos sensíveis. Representou, neste caso, a dubiedade de uma Justiça que por vezes hesita diante do poder.
A oposição tentou desqualificar o julgamento, dizendo que apenas o plenário poderia decidir sobre um ex-presidente. Mas Bolsonaro já não era chefe do Executivo quando foi denunciado: era apenas mais um cidadão diante da lei. E, nesse caso, o regimento do Supremo é claro — as turmas têm competência para julgar. A tentativa de transformar uma questão regimental em perseguição política não resiste à análise jurídica.
Não há aqui espaço para meias palavras: tratou-se de uma trama arquitetada por um grupo que desprezou a democracia e tentou arrastar o Brasil para as trevas do autoritarismo. Agora, o “mito” cai no seu devido lugar: o banco dos réus e a prisão.
Os acéfalos que ainda o seguem repetem slogans vazios e teorias conspiratórias. Estão diante de uma dura lição: a democracia, apesar de suas imperfeições, resiste. E quando atacada, reage.
Que esta condenação sirva de aviso e de esperança. Aviso para os que sonham com aventuras golpistas. Esperança para quem acredita que o Brasil pode caminhar, com todas as suas contradições, sob a luz da democracia.